Licenciado em Geografia pela UFRGS (1988), Mestrado em Educação (UFRGS, 1997) e doutorado em Geografia pela USP (2005), Quem nunca leu ou usou em sua aulas, principalmente quando está fazendo estágio, um Globo em suas mãos? Esse é um dos livros desse nosso entrevistado, que estava no ENG 2010( clique aqui e confira como estava lotada a sala), confira a entrevista que está imperdível, deixe seus comentários e no final tem mais dicas de livros.
PPEG- No estágio que realizamos com os alunos do Educação de Jovens e Alunos, o EJA, no Unilasalle*, com idades entre 16 e 74 anos, propusemos a eles a elaboração de um dicionário geográfico onde cada aluno criava conceitos, em determinadas palavras, conforme o entendimento de cada aluno. O Sr. concorda que devemos alfabetizar o aluno em Geografia capacitando-o na sua compreensão e ter o livro didático como material de apoio?
PPEG- No estágio que realizamos com os alunos do Educação de Jovens e Alunos, o EJA, no Unilasalle*, com idades entre 16 e 74 anos, propusemos a eles a elaboração de um dicionário geográfico onde cada aluno criava conceitos, em determinadas palavras, conforme o entendimento de cada aluno. O Sr. concorda que devemos alfabetizar o aluno em Geografia capacitando-o na sua compreensão e ter o livro didático como material de apoio?
Prof. Nestor A. Kaercher- Sempre digo aonde vou: ‘se não for imoral nem ilegal, vale a tentativa”. Todas as tentativas são válidas, desde que o professor tenha claro do porque escolheu esta ou aquela opção (de conteúdo, de metodologia, de recursos, etc). Ou seja, o planejamento intencional e prévio é fundamental. Outra coisa importante é ouvir e olhar o aluno com atenção, ver suas reações, suas motivações, seu desânimo.... para que o planejamento inicial possa ser revisto e novas tentativas sejam feitas. Quanto ao dicionário pode ser uma boa estratégia, desde que não se leve o aluno a decorar conceitos mecanicamente. Quanto ao livro didático também não tem o que objetar. Há vários deles que são muito bons. Usá-los com criatividade e criticidade é tarefa fundamental para o professor.
* no Unilasalle a sigla correta é EAJA= ensinando e aprendedo com os jovens e alunos
PPEG - O estudante que está se preparando para o vestibular, a maioria das vezes, fica a dúvida em qual profissão que vai escolher. “Adoro a disciplina de Biologia, vou optar pela Medicina”, por exemplo. Então, como mostrar que a Geografia pode influenciar na escolha da carreira profissional? E se há alguma bibliografia sobre as disciplinas que podem ajudar nessas dúvidas?
Prof. Nestor A. Kaercher-A opção pela carreira profissional ultrapassa em muito o ‘gostar’ ou não de algumas disciplinas. Tem fatores sociais, a história de cada família, do indivíduo, as possibilidades que se tem. Claro se tivermos mais e melhores professores de Geografia (ou de outras disicplinas) mais pessoas se inclinarão a nos ouvir com atenção. Se vão escolher a profissão a, b ou c no futuro me parece menos importante do que me ouvirem minhas aulas com atenção hoje. Não controlamos o futuro dos nossos alunos, então, o prioritário é ser um professor coerente, democrático e respeitador dos alunos. Ouvi-los com atenção não é só pra que eles repitam nossos conteúdos de Geografia. É também para eles falarem de seus desejos, sonhos, medos e planos. Isso pode ajudar o aluno a escolher com mais segurança. Quanto a bibliografias .... sobre qualquer assunto há uma infinidade de opções, boas e ruins. Logo, o primeiro passo é falar com mais pessoas, ouvi-las sobre suas opções, tanto de profissão como de .... leitura. Como se vê estou insistindo no DIÁLOGO como um processo e método pedagógico. Não é uma mera conversa de compadre. O professor não é ‘amigo’ do aluno. Ele dialoga com o aluno para debater, discutir, propor que olhemos para cantos mal iluminados que estão ao nosso redor, e, é claro, dentro de nós mesmos. Como já escrevi: não tem como docenciar sem existenciar.
PPEG- Conforme o título do seu texto: “Quando a Geografia crítica é um pastel de vento e nós, seus professores, Midas.”; como esse professor, em tempos de reality show,brigas em sala de aula e catástrofes ambientais, pode utilizar o cotidiano e despertar o interesse dos alunos pela Geografia?
Prof. Nestor A. Kaercher- Sempre se pode olhar o copo meio cheio ou meio vazio. Problemas existem aos montes e a sala de aula não estaria fora deles. Sou um otimista porque sei que o professor PODE FAZER A DIFERENÇA PARA MELHOR PARA SEUS ALUNOS. Um professor não precisa ser um cara muito expansivo. Há bons professores tímidos (eu sou um deles) e sisudos. Cada um tem seu estilo e a riqueza da escola também é essa: tem professores de todos os tipos. Você precisa ser fiel a si mesmo, crer no que faz (e saber porque faz) e propor textos, discussões e tarefas que respeitem a inteligência e a criatividade do aluno. Eles são muito capazes, e, exceções a parte, tem boa vontade e querem aprender. Quando o aluno percebe um professor dedicado e coerente na frente dele, há uma tendência a ouvi-lo e respeitá-lo. Eu acho que temos que nos esforçar para cativá-los, claro, mas o professor não é um animador de auditório, não está lá para ser amigo ou simpático. Não estou advogando que sejamos mau humorados ou tiranos, mas também não sou daqueles que acham que somos só nós professores os responsáveis pela aprendizagem do aluno. Aprender pode ser legal, mas não é automaticamente legal. Implica trabalho, esforço, leitura, enfim, é trabalhoso, às vezes, prazeroso.
PPEG- Conforme o título do seu texto: “Quando a Geografia crítica é um pastel de vento e nós, seus professores, Midas.”; como esse professor, em tempos de reality show,brigas em sala de aula e catástrofes ambientais, pode utilizar o cotidiano e despertar o interesse dos alunos pela Geografia?
A pergunta levanta um mar de possíveis respostas. A primeira dica é pensar o cotidiano dos alunos como um ponto de partida para a aprendizagem mais sistematizada. O que eles leem, ouvem, fazem, querem, creem, temem, etc. Ouvi-los e organizar esta massa de informações pode nos ligar aos temas da Geografia. Não, não é fácil, é daí já vem outro ‘conselho”; é preciso ler, estudar, criar alternativas a partir do que os outros (inclusive livros didáticos) já propuseram. Sou otimista, creio que o professor pode marcar positivamente o aluno se ele fizer um trabalho sério, dedicado e democrático. Falta em nossas escolas ouvir o aluno com mais atenção e, a partir deste pontapé inicial, organizar sistematicamente estratégias de leitura, escritura e interpretação de diferentes textos que a vida cotidiana nos oferece.
Acreditem, leitores, vocês podem se realizar na profissão e, ajudar muitos que os ouvem a serem mais e melhores seres humanos.
Utópico? Sim, um pouco, mas com os pés no chão também se pode sonhar. Deus ao mar perigos deu, mas nele espelhou o céu, já escreveu Fernando Pessoa.
a nos ouvir com atenção. Se vão escolher a profissão a, b ou c no futuro me parece menos importante do que me ouvirem minhas aulas com atenção hoje. Não controlamos o futuro dos nossos alunos, então, o prioritário é ser um professor coerente, democrático e respeitador dos alunos. Ouvi-los com atenção não é só pra que eles repitam nossos conteúdos de Geografia. É também para eles falarem de seus desejos, sonhos, medos e planos. Isso pode ajudar o aluno a escolher com mais segurança. Quanto a bibliografias .... sobre qualquer assunto há uma infinidade de opções, boas e ruins. Logo, o primeiro passo é falar com mais pessoas, ouvi-las sobre suas opções, tanto de profissão como de .... leitura. Como se vê estou insistindo no DIÁLOGO como um processo e método pedagógico. Não é uma mera conversa de compadre. O professor não é ‘amigo’ do aluno. Ele dialoga com o aluno para debater, discutir, propor que olhemos para cantos mal iluminados que estão ao nosso redor, e, é claro, dentro de nós mesmos. Como já escrevi: não tem como docenciar sem existenciar.
PPEG- Conforme o título do seu texto: “Quando a Geografia crítica é um pastel de vento e nós, seus professores, Midas.”; como esse professor, em tempos de reality show,brigas em sala de aula e catástrofes ambientais, pode utilizar o cotidiano e despertar o interesse dos alunos pela Geografia?
Bom, sempre se pode olhar o copo meio cheio ou meio vazio. Problemas existem aos montes e a sala de aula não estaria fora deles. Sou um otimista porque sei que o professor PODE FAZER A DIFERENÇA PARA MELHOR PARA SEUS ALUNOS. Um professor não precisa ser um cara muito expansivo. Há bons professores tímidos (eu sou um deles) e sisudos. Cada um tem seu estilo e a riqueza da escola também é essa: tem professores de todos os tipos. Você precisa ser fiel a si mesmo, crer no que faz (e saber porque faz) e propor textos, discussões e tarefas que respeitem a inteligência e a criatividade do aluno. Eles são muito capazes, e, exceções a parte, tem boa vontade e querem aprender. Quando o aluno percebe um professor dedicado e coerente na frente dele, há uma tendência a ouvi-lo e respeitá-lo. Eu acho que temos que nos esforçar para cativá-los, claro, mas o professor não é um animador de auditório, não está lá para ser amigo ou simpático. Não estou advogando que sejamos mau humorados ou tiranos, mas também não sou daqueles que acham que somos só nós professores os responsáveis pela aprendizagem do aluno. Aprender pode ser legal, mas não é automaticamente legal. Implica trabalho, esforço, leitura, enfim, é trabalhoso, às vezes, prazeroso.
A pergunta levanta um mar de possíveis respostas. A primeira dica é pensar o cotidiano dos alunos como um ponto de partida para a aprendizagem mais sistematizada. O que eles leem, ouvem, fazem, querem, creem, temem, etc. Ouvi-los e organizar esta massa de informações pode nos ligar aos temas da Geografia. Não, não é fácil, é daí já vem outro ‘conselho”; é preciso ler, estudar, criar alternativas a partir do que os outros (inclusive livros didáticos) já propuseram. Sou otimista, creio que o professor pode marcar positivamente o aluno se ele fizer um trabalho sério, dedicado e democrático. Falta em nossas escolas ouvir o aluno com mais atenção e, a partir deste pontapé inicial, organizar sistematicamente estratégias de leitura, escritura e interpretação de diferentes textos que a vida cotidiana nos oferece.
Acreditem, leitores, vocês podem se realizar na profissão e, ajudar muitos que os ouvem a serem mais e melhores seres humanos.
Utópico? Sim, um pouco, mas com os pés no chão também se pode sonhar. Deus ao mar perigos deu, mas nele espelhou o céu, já escreveu Fernando Pessoa.
PPEG- Qual a mensagem que podes deixar aos nossos colegas estagiários da licenciatura?
Prof. Nestor A. Kaercher- Acho que todas as respostas anteriores tem dicas para vocês repensarem suas práticas como estudantes e como futuros professores. Pensem nos belos exemplos de docentes que vocês tiveram, desde o Ensino Fundamental. Tentem copiá-los. Pensem nos ‘maus exemplos’ de professores. Evitem fazer o que eles fizeram com vocês. Mostrem o que de belo vocês sabem para eles: livros, filmes, histórias.
Façam perguntas reais e efetivas (que precisam de respostas próprias) para eles. Ouça com atenção o que eles tem a dizer. Peça para os colegas refletirem sobre o que foi dito em aula pelos próprios colegas.
Eduquem pelo exemplo. Sejam coerentes e éticos. Evitem sermões de bons conselhos, isso resolve pouco.
Creiam que uma docência comprometida pode abrir oportunidades para quem vem de baixo, e, sem dúvida, pode sempre ampliar e complexificar a leitura de mundo de todo e qualquer estudante, independente da idade ou classe social
Teria muito a dizer, mas acho que isso já é um início de conversa.
Obrigado. Sucesso.
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