quinta-feira, 7 de abril de 2011

Aquecimento Global ou Resfriamento Global? Glaciólogo Jefferson Simões

Tendo um a formação interdisciplinar nas Geociências, Jefferson Simões é geólogo formado pela UFRGS, mas não chegou a exercer a profissão, realizou o doutorado em Glaciologia no Instituto de Pesquisa Polares do Departamento de Geografia da Universidade de Cambridge (Inglaterra) logo após o curso de graduação, no seu pós-doutorado foi sobre testemunhos de gelo (umas das técnicas essenciais em paleoclimatologia). Sua carreira é basicamente dedicada ao estudo do papel da criosfera (a massa de neve e gelo do planeta) no sistema ambiental e a reconstrução da história climática por testemunhos de gelo. Além de ser professor de Geografia Física e Geografia Polar da UFRGS, é pesquisador do CNPq e do Programa Antártico Brasileiro, dirigindo o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera. Recentemente em 2010 foi eleito para a Academia Brasileira de Ciências. O entrevistado de hoje sobre Aquecimento ou Resfriamento Global é o professor Jefferson Simões, após a leitura da entrevista deixe seus comentários.


“Com 40 anos de experiência em estudos do clima no planeta, o meteorologista da Universidade Federal de Alagoas Luiz Carlos Mollion apresenta ao mundo o discurso inverso ao apresentado pela maioria dos climatologistas. Representante dos países da América do Sul na Comissão de Climatologia da Organização Meteorológica Mundial (OMM), Mollion assegura que o homem e suas emissões na atmosfera são incapazes de causar um aquecimento global. Ele também diz que há manipulação dos dados da temperatura terrestre e garante: a Terra vai esfriar nos próximos 22 anos.” Essa foi uma introdução realizada de uma entrevista com o Sr. Luiz Mollion para o repórter Reinaldo Medeiros, da revista Veja, 13/12/2009. No ano passado, o meteorologista Luis C. Mollion participou do Encontro Nacional dos Geógrafos, e nessa palestra informou que: não há o derretimento das geleiras, o que derrete é o gelo flutuante . PPEG- Perguntamos: como funciona o processo de degelo da Antártida?


Jefferson Simões - Primeiramente, a questão das mudanças climáticas é muito mais complexa do que um “aquecimento global”, envolvendo mudanças em padrões de circulação, no ciclo hidrológico, entre outros. Aquecimento global não deixe de ser uma simplificação, além do que sabemos que o registro climático comporta tanto o componente natural (ciclos solares, variações em padrões orbitais, ciclos El Niño - LA Niña, processos atmosféricos e criosféricos nas regiões polares) como aquelas induzidas pela atividade humana. Cabe ao Geógrafo Físico identificar os fatores ditos naturais e aqueles antrogênicos, assim teremos um trabalho adequado e poderemos melhor os cenários sobre o comportamento climático. Dito tudo isso, não concordo com o Prof. Mollion sobre a afirmação que não existe um aquecimento da atmosfera, inclusive 2010 a temperatura média global aumentou. Evidências do aquecimento da atmosfera não provêem somente de estações meteorológicas, mas também do oceano e testemunhos de gelo. O que provavelmente acontecerá nos próximos anos: Alguns anos esfriaram e outros a temperatura aumentara, mas lentamente a tendência será de uma maior aquecimento da atmosfera (mas de maneira diferencia em diferentes partes do globo)> Quantos as geleiras, é um absurdo dizer que não existe um maior derretimento de geleiras. Deve-se, no entanto separar o mito da realidade. Primeiramente deve-se ter ciência que geleira (ou os enormes mantos de gelo da Groenlândia e da Antártica) são formados pela precipitação e acumulação de neve e estão assentados sobre o continente (ou ilhas). O que sabemos deste gelo, está derretendo? Como seria de esperar em geografia, não existe um comportamento homogêneo global, depende das condições climáticas regionais. Assim sabemos: - Antártica (90% do volume do gelo do planeta): A maior parte das geleiras da Antártica não estão derretendo (trata-se de um mito). Evidentemente, onde ocorre derretimento é na parte mais quente do continente - ou seja, na Península Antártica). - Groenlândia (6% do gelo do planeta): Sua parte mais meridional está perdendo muito gelo, e contribui para o aumento do nível do mar. - Outras Geleiras no Ártico (2% do volume de gelo do planeta): Estão derretendo - Geleiras nos trópicos, subtrópicos e regiões temperadas) (1% do volume do gelo global): Estão derretendo rapidamente, e contribuem bastante para o aumento do nível do mar. Assim, é o derretimento de parte do gelo do Ártico e de montanhas fora das regiões polares que contribuem para o aumento do nível do mar, estimado entre 70 a 120 cm ate 2100. O outro gelo, o mar congelado, forma-se por congelamento direto do mar. Como esta já está flutuando, se derreter não altera o nível do mar. Por outro lado, ao desaparecer muda o albedo planetário, acelerando mudanças climáticas na escala continental! Esta derretendo? Na Antártica: Não. No Ártico: Sim e rapidamente. Finalmente é importante ressaltar que desde 1890 temos um serviço de monitoramento de geleiras, que a partir de 1970 se tornou global com o uso de satélites.



PPEG - Tempestades em certas cidades, estiagens alarmantes em outras, secas em algumas regiões, invernos rigorosos, enchentes, enfim essas mudanças climáticas. Na sua opinião, qual é o papel da mídia nessa casos para a população?



Jefferson Simões- Exagerado. Este tem sido um problema constate, pois a mídia muitas vezes apela para o catastrofismo, atribuindo qualquer desastre ambiental a questão das mudanças do clima. Alem disso existe desconhecimento de conceitos básicos, como a diferença entre tempo meteorológico e clima, mudanças climáticas naturais e induzidas pelo home, escala de tempo das mudanças climáticas (décadas e não anos ou mesmo dias como anunciado pela imprensa).


PPEG - Caso fosse convidado a ministrar uma aula, com um colega da Geografia, qual seria a prática pedagógica poderia desenvolver com o tema Aquecimento Global?


Jefferson Simões- Primeiramente, não deveria introduzir o tema como tal! A unidade deve ser mudanças climáticas globais. Deve-se apresentar conceitos básicos sobre tempo meteorológico e clima, sobre o conceito de mudança do clima, como elas ocorreram no passado e finalmente discutir a modificação da química atmosférica pelo homem (e não só o caso do CO2). Só então deve discutir que um dos possíveis conseqüências dessa mudança na atmosfera, e o aumento da concentração de VÁRIOS gases do efeito estuda, que INTENSIFICARAM o efeito estufa natural.


PPEG – Para finalizar indique aos nossos visitantes livros sobre o Aquecimento Global.


Jefferson Simões- Dois livros e um site para a questão do clima: Merchants of Doubt: How a Handful of Scientists Obscured the Truth on Issues from Tobacco Smoke to Global Warming. Naomi Oreskes e Erik M. Conway. Why We Disagree About Climate Change: Understanding Controversy, Inaction and Opportunity Mike Hulme, Cambrige University Press. Os argumentos céticos e o que a ciência diz sobre eles (em português)

3 comentários:

  1. Parabéns pela entrevista, Silvana. Acertaste mais uma vez ao entrevistar o prof. Jefferson, uma das maiores autoridades brasileiras no assunto.
    Abraço, Paulo Fitz.

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    1. Obrigda está na hora de recomeçar a ativar o blog podemos fazer uma entrevista ?

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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