sexta-feira, 13 de abril de 2012

Piso Nacional, Solução Federal

Há fortes indícios no ar. Ventos de mudança estão soprando. A sessão de segunda-feira da Assembleia Legislativa do RS foi uma das mais incendiadas das últimas décadas. Dentro e fora da Casa professores descontentes protagonizaram mais um surto de indignação contra a deplorável situação vivida há décadas pelo magistério estadual. Para eles, eram irrelevantes os resultados da reunião, e a aprovação ou não da proposta oficial de aumento salarial tinha apenas caráter espetaculoso e pirotécnico.

Com efeito, muito mais do que cifras e percentuais, de novo é a educação e o futuro do Brasil que estão em jogo, o qual agora parece se encaminhar para o final. Nessa disputa, Governo popular que se preza deveria almejar ser derrotado, mas estranhamente faz questão de, até os últimos suspiros, vitaminar a resistência, para que ao final se torne obrigado a ceder para tudo aquilo que almejaria acolher desde o início.
Esquisita psicologia é essa praticada pelos nossos governantes, seres humanos como nós, que escolhem sempre se mover sob pressão. Como explicar para algum extraterrestre que no Brasil Grande do Sul, ou no Rio Grande do Sul do Brasil, a forma de agir dos representantes do povo passa por uma pescaria muito bizarra, onde primeiro se joga a isca e depois se fica esperando ser arrastado pelos que a mordem. Por exemplo, primeiro um ministro da Justiça cria um piso nacional para o magistério pensando em mais tarde se tornar governador e poder implementá-lo. Mas depois, quando a isca foi fisgada pelo cardume dos trabalhadores da educação, e já como governador de estado, ele argumenta que o piso não foi criado para esse momento. Ingenuidade? Má-fé? Ardileza política?
Entre nós, para bobo o governador não serve. Os verdadeiros animais políticos são invariavelmente intelectuais, tendo ou não tendo passagem por academia. Tendo ou não tendo malhado numa universidade. Quem propôs um piso nacional para o magistério quando piso não havia não pode ser acusado de Hitler. O que, então, ele é? Se tudo der certo, se dessa vez, como ele no fundo espera e torce, os professores permanecerem protestando com veemência e força no limite da sobrevivência, não sobrará alternativa para os governos estadual e federal senão a de reconhecer a legitimidade das reivindicações e generalizar país afora o atendimento às súplicas dos professores estaduais, abrindo enfim a válvula de escape para uma pressão acumulada há dezenas de anos no Rio Grande e no país.
E aqui vai uma boa notícia para os docentes simpatizantes do bem-falante Tarso Genro: o resultado disso para ele será o upgrade que precisa para se tornar o maior lutador contemporâneo pela qualidade do ensino no país. Emergirá da cena, sem dúvida, candidato natural à presidência da República Federativa do Brasil. Não se espera outro caminho, e os próximos passos já estão escritos nas estrelas.
A vitória da educação está finalmente começando a acontecer. Jargão que sempre se repete, a base para o progresso em qualquer lugar são as escolas. E o que estamos a presenciar é o começo da tão aguardada revolução no ensino. Receita para ela veio dos sucessivos governos. Ingrediente principal: uma multidão de professores mal pagos frustrada e enraivecida de tanto ouvir empulhações. Modo de fazer: misture ilusões e falsas promessas em quantidades extremas. Leve à saturação. Bata tudo e acrescente fermento da marca Piso Nacional. Jogue no forno e torça para explodir rápido. Professores e professoras, se formos espertos dessa vez não podemos nos intimidar.
Chegou o momento. Admiradores de Tarso, isso é o que o governador deseja e precisa. Temos como nunca o apoio da sociedade. Não somos mais sensíveis às acusações de que nosso movimento ameaça os limites da governabilidade e do estado de direito. Quando o governo desrespeita as leis que ele próprio criou é porque está a implorar por ajuda. Está dizendo aos que morderam a isca que eles agora precisam puxá-lo e encorajá-lo a proceder da maneira certa.
Esse é o diálogo real entre governo e sociedade que só vê quem não está contaminado por noções equivocadas de maquiavelismo preconcebido. E a verdadeira ajuda é essa: lenha, lenha na fogueira. Até o fogo se generalizar. Como bem educados, dessa vez a pressão só vai se extinguir quando a educação triunfar.
Leandro Lopes - professor

sábado, 7 de abril de 2012

25 ANOS DE CONFLITOS NA EDUCAÇÃO

Colocamos hoje, esse artigo do Sr. Jocelin, depois de ler deixe seus comentários ou nos diga como está a educação no seu estado.



Mais uma vez vemos professores e professoras realizando uma paralisação, estadual e nacional, na luta por um piso salarial e fico a me perguntar: Quantos anos perdidos? Quantas gerações comprometidas por causa de um piso salarial que o magistério até hoje não conquistou de fato?
Recordo-me que em 1986 foi concedido, pelo então Governador Jair Soares, um piso salarial de 2,5 salários mínimos, após 60 dias de greve do magistério com apoio dos pais e estudantes. Neste mesmo ano foi eleito o Governador Pedro Simon.


Em 1987, eu, como Presidente da entidade representativa dos pais, a ACPM-Federação, me reuni com o futuro Governador Simon em sua casa de praia e posteriormente na sua residência em Porto Alegre, em janeiro e fevereiro, e entre tantas conversas sobre educação lhe fiz um pedido: “Governador não mecha no piso salarial conquistado pelo Magistério, pois se mexer a educação, a juventude e o seu governo serão prejudicados”.


Infelizmente, o Governador Simon ao assumir seu mandato, em março, não ouviu os pais e suspendeu o pagamento do piso. Todos os gaúchos, que viveram naquela época, sabem que passamos anos e anos com greves do magistério.


Passaram-se 25 anos de conflitos, a qualidade da educação decaiu, os mestres desmotivados, gerações de estudantes comprometidas, e todos se perguntam: por quê?


Hoje, o Governo Federal instituiu um piso salarial proposto pelo então Ministro da Educação Tarso Genro. O mesmo que, agora Governador do Estado, não quer pagar o piso que propôs.
Que tristes paradoxos, um Governador deu o piso, outro tirou, um Governador (Antonio Brito) fez mudanças no plano de carreira (que dizem ser o entrave para dar o piso) e o outro Governador (Olívio Dutra) desfez algumas mudanças, mas não deu o piso de 2,5 salários para o magistério. Agora, o atual Governador não quer dar o piso que ele mesmo criou.


O mais paradoxal é que o piso de 2,5 salários de 25 anos atrás corresponde hoje a 1.550 reais, o piso que o Governo Federal criou é de 1.451 reais e o Governo Estadual quer pagar cerca de 1.260 reais. Que triste conclusão: se tivesse sido mantido desde 1987 o piso salarial não teríamos vivido 25 anos de conflitos, de consequente queda e prejuízos educacionais. São situações como essa, que nos levam, entre outras causas, a ocupar os piores índices do IDH no mundo e os últimos lugares nos indicadores de educação.


Entra governo, sai governo, independentemente de partidos políticos e ideologias, nada muda, todos os anos temos greves e mais greves em que alunos são prejudicados, a educação é comprometida e o futuro da juventude vira uma interrogação. O piso tem que ser pago, chega de greves!


Será que vamos passar mais 25 anos em conflitos, sem reconstruir a educação que o Estado, Municípios e País precisam e a sociedade clama?


Jocelin Azambuja – advogado – ex-presidente da ACPM-FEDERAÇÃO