quarta-feira, 11 de maio de 2022

Ciclo de Entrevista: Geoprocessamento e Saúde-Mônica Magalhães



Em mais de meio século a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) tem contribuído para a saúde pública brasileira com descobertas científicas, vacinas, medicamentos, pesquisas isto desde que foi criada. Desenvolveu vacinas e medicamentos contra doenças infecciosas como a febre amarela, peste bubônica e doença de Chagas que foi descoberta pela Fiocruz, atualmente produziu a vacina de Oxford e a Astrazeneca ambas contra a Covid-19. E com estas doenças se vem a preocupação de rastrear, mapear...geoprocessar... sendo este um dos mecanismos para se frear ou buscar uma solução rapidamente para não se proliferar a doença. Por fim temos o prazer de entrevistar a nossa convidada e desde já agradecemos o seu tempo em ter participado no nosso blog e contribuir mais com os nossos visitantes. Graduada em Engenharia Cartográfica pela UERJ; Mestrado em Engenharia de Computação, área de concentração: Geomática – UERJ e Doutorado em Saúde Coletiva – UFRJ, é tecnologista pleno em Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz então a nossa última entrevistada sobre Geoprocessamento e Saúde é a Dra. Mônica Magalhães. Depois das perguntas colocamos a referências usadas, e se possível deixe seus comentários .

1-PPEG- “O uso de técnicas de Geoprocessamento na área de saúde permite a análise da distribuição espacial de agravos, de problemas ambientais relacionados e a avaliação das redes de atenção à saúde. O uso dessas técnicas torna-se além de fascinante, custoso, pressupondo a incorporação de novas tecnologias e metodologias, em geral ausentes no setor. A capacitação e treinamento de profissionais de saúde nessa área se fazem mais necessária a cada dia” (MAGALHÃES). Em que outros segmentos, além do Coronavírus, a Fiocruz também esteve presente utilizando a técnica de Geoprocessamento sendo uma ferramenta essencial para a saúde da população?

Mônica Magalhães- A Fiocruz, a partir do Núcleo de Geoprocessamento do Instituto de Comunicação e Informação Tecnológica em Saúde, vem há mais de 30 anos atuando na utilização de Análise Espacial e Geoprocessamento para estudos de Saúde Pública. Não apenas na execução de análises, mas na formulação de métodos, técnicas e tecnologias na abordagem da importância do território nas questões ligadas a Saúde Pública. O Núcleo é pioneiro e vem trabalhando com diferentes agravos, especialmente os transmissíveis (dengue, zika, tuberculose, leptospirose, hepatites, leishmanioses, febre amarela, esporotricose, etc.) e suas relações com fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais e comportamentais.

Importante salientar que as ações do núcleo não se resumem a execução de projetos de pesquisa, mas também em formação e capacitação de profissionais do SUS, cabendo aqui, pesquisadores, estudantes, trabalhadores de serviços de saúde, da comunicação social e gestores.

2- PPEG- “...o Geoprocessamento foi fundamental para que houvesse um controle melhor em relação aos lugares, principalmente nos municípios, geralmente com a obtenção de dados das subnotificações da Secretaria Municipal da Saúde alguns fixos ou com interação sejam esses dados de recuperados, óbitos ou internados. Logo essa foi uma das ferramentas principais para tomadas de decisão para o combate à pandemia em que se pode definir o problema, buscando-se alternativas e avaliando-as caso a caso.”(FERREIRA) A partir desta citação o Monitora Covid-19 é um projeto essencial aonde consta todas informações em uma só plataforma desenvolvida pela equipe do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict/Fiocruz). Se possível, nos conte mais sobre este projeto.

Mônica Magalhães - O embrião do MonitoraCovid-19 nasceu a partir das primeiras análises de dados sobre capacidade de internação do Brasil antes mesmo da doença chegar no país. Em março, quando contabilizávamos os primeiros casos confirmados no país, um pequeno grupo de pesquisadores se deu conta de que seria impossível monitorar a evolução da doença com as ferramentas disponíveis na época.

Assim, foi desenvolvido um sistema web de visualização e monitoramento da pandemia, interativo e escalável. O sistema reúne em um único ambiente de fácil interação, dados sobre casos, óbitos e vacinação da Covid-19 e eventos associados direta ou indiretamente à pandemia, como adoção de medidas de isolamento social, tráfego, congestionamentos, mobilidade de pessoas, utilização de transporte público, ocorrência de outras síndromes respiratórias, população em risco, produção legislativa e relatório municipal. O sistema é dinâmico e diariamente são incorporadas às informações coletadas de várias bases de dados de diferentes instituições: Johns Hopkins University Center for Systems Science and Engineering (JHU CCSE); Página oficial do Ministério da Saúde - Covid MS; Brazil.io; IDB CoronavirusImpact Dashboard (Waze); Google COVID-19 Community MobilityReports; Public Transit Index; Leis Municipais, etc. E ainda permite a inclusão de dados de outras fontes, em parcerias públicas ou privadas.

O acesso e download aos dados é livre através deste link clicando aqui. São disponibilizados modelos matemáticos para análise de tendências temporais e espaciais que permitem acompanhar a dispersão da doença em municípios, estados e países fornecendo informação confiável, transparente e de forma sistemática.

O sistema se dispõe a atender a sociedade consumidora de informações de saúde pública: a população em geral com intuito de fornecer informação correta e convincente sem que ela tenha de buscar ativamente em diferentes fontes de dados; pesquisadores e estudantes disponibilizando dados para desenvolver modelos preditivos adequados à realidade nacional capazes de informar ações de contenção e tratamento; e gestores da saúde pública permitindo análises para o fortalecimento da capacidade do estado brasileiro e das suas distintas unidades espaciais de monitorar a epidemia sem necessidade de um conhecimento de modelagem.

Todo o sistema é construído utilizando softwares livres de código aberto, utilizando dados de domínio público, abertos para download. Dados do Google Analytics demonstra que o MonitoraCovid-10 já foi acessado mais de 670.280 vezes e por 121 países.

3- PPEG- Dê uma sugestão de aos nossos visitantes do blog PEDAGEO utilizando o tema Geoprocessamento e Saúde em sala de aula.

Mônica Magalhães- Conhecer diferentes técnicas de manipulação e análise de dados de saúde é extremamente importante, sendo o Geoprocessamento um caminho muito promissor que permite inserir fatores ligados ao ambiente em que as populações residem, trabalham e ocupam, bem como fatores sociais, econômicos e culturais nas análises de problemas de saúde. Entretanto é necessário formular a pergunta norteadora do estudo e ter convicção na hipótese a ser levantada porque com tantas possibilidades de integração de dados o “céu é o limite”.