segunda-feira, 6 de junho de 2022

Ciclo de Entrevistas: Geoprocessamento e Saúde- Ricardo Dagnino

 




Iniciou seus estudos de graduação em Porto Alegre na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) no curso de Ciências Sociais em 1997 gostava muito de Antropologia e Sociologia, mas como vários alunos que ingressavam em alguma graduação ele não estava feliz na sua escolha…, apesar do curso ser muito bom e com isso foi buscar no seu antigo sonho a sua realização num curso que havia muitos candidatos, mas tinha uma vaga… Acabou passando e pode realizar um excelente curso, com muitos trabalhos de campo e colegas que se tornaram amigos e que convivem até hoje!



Concluiu o curso de Bacharelado em Geografia pela UFRGS em 2004 e foi fazer mestrado também em Geografia no Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), com defesa de dissertação sobre mapeamento participativo de riscos ambientais em 2007. Foi a partir do Mestrado que conheceu as pesquisas realizadas pelo Núcleo de Estudos de População “Elza Berquó” e pelos professores ligados ao Departamento de Demografia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UNICAMP. Pesquisas interessantíssimas que visavam no campo dos estudos de população, utlizando ferramentas de análise de dados estatísticos e espaciais, com muito Geoprocessamento.



Passou na seleção e fez a pesquisa de doutorado em Demografia na UNICAMP entre 2008 e 2014, estudando indicadores socioambientais e o processo de ocupação da Amazônia, e também durante o doutorado também fui bolsista de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação no projeto de pesquisa “URBISAmazônia”, coordenado pelo Pesquisador Antônio Miguel Vieira Monteiro, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Depois que finalizou o doutorado fez um estágio de pós-doutorado entre 2015 e 2017 em Análises estatísticas espaciais ligadas ao Laboratório Urbanização e Mudanças no Uso e Cobertura da Terra, da Faculdade de Ciências Aplicadas da UNICAMP.



Ah, mas os sonhos não acabaram e foi buscar outro sonho antigo o de ensinar Geografia, e foi fazer o curso de Licenciatura que conseguiu utilizar vários créditos do curso de Bacharelado em Geografia que concluiu em 2004 ficando as disciplinas de didática, ensino e estágio docente.



Em 2017 tornou-se Licenciado em Geografia pelo Claretiano Centro Universitário. Desde 2018 é professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, coordenando diversos projetos de pesquisa e extensão e atuando no ensino, prioritariamente, nos cursos de Bacharelado em Desenvolvimento Regional e Licenciatura em Geografia. No final da entrevista colocamos a fonte usada para elaboração na pergunta e o currículo do Professor que é o nosso entrevistado de hoje o Dr. Ricardo Dagnino que desde já agradecemos pela belíssima entrevista e ter cedido o seu tempo!! Participe deixando os seus comentários. Confira também no blogpedageo.wordpress.com



1-PPEG- “Ele foi desenvolvido dentro do Projeto SIG Litoral, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com a estratégia de disponibilizar à sociedade análises espaciais e dados organizados sobre a doença, reunindo pesquisadoras/es, bolsistas e voluntárias/os. O portal, voltado à comunicação em saúde, possibilita a visualização de dados nas escalas global, nacional e regional, além do monitoramento das populações indígenas da Amazônia e o mapeamento das redes de solidariedade no Litoral Norte do RS”(DAGNINO et al, 2020). A partir desta introdução, explique um pouco mais sobre este projeto e quantas pessoas se envolveram nele?

Ricardo Dagnino- O projeto de pesquisa SIG Litoral Norte está cadastrado na Pró-Reitora de Pesquisa da UFRGS desde 2018. Foi elaborado pelos meus colegas servidores da UFRGS Litoral: a geógrafa e professora Marlise Dal Forno e pelo Engenheiro Cartógrafo Pablo Silveira. A Marlise foi a primeira coordenadora do projeto e eu assumi a coordenação depois dela, ainda em 2018. Antes da pandemia de Covid-19, em 2020, o projeto trabalhava na compilação, criação, cálculo, processamento, análise e elaboração de mapas (tanto físicos, em papel, como em formato digital, interativo) voltados para retratar aspectos socioeconômicos e ambientais dos municípios localizados na porção norte do litoral gaúcho, que é a área de atuação da UFRGS Litoral. Com a chegada da pandemia resolvemos canalizar nossos esforços de Geoprocessamento para elaborar mapas interativos, gráficos e fornecer para a população diversas análises estatísticas e espaciais que não estavam disponíveis na ocasião. Nesse processo fomos impulsionados a ajudar também na análise e representação de dados do Amazonas, que passou por momentos críticos no início da pandemia, atendendo o convite da professora Geise Canalez da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e outros colegas com atuação naquele estado: Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Museu Nacional – Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, FIOCRUZ/ILMD – Fiocruz Amazônia, Instituto Leônidas e Maria Deane. Nesse aspecto é importante notar que no início da pandemia tivemos casos de apagão de dados (as informações sobre a doença sumiram do website do Ministério da Saúde) e dados fornecidos em formatos pouco amigáveis (como PDF ou imagem JPG), que impediam a elaboração rápida de mapas. Assim, nossos objetivos de pesquisa foram readequados para enfocar a pandemia e fornecer mapas com a distribuição espacial e a propagação da doença tanto no território gaúcho como no Brasil. O trabalho foi dividido em temas específicos cada um com coordenadores temáticos: Covid-19 mundo, coordenado pelo professor Guilherme Oliveira (UFRGS) e auxiliado por dois alunos de graduação de geografia; Covid-19 e solidariedade RS, coordenado pela professora Sinthia Cristina Batista (UFRGS), pelo geógrafo Paul Schweizer (Universität Hamburg) e o aluno Gabriel Amoretti Franco e mais uma dezena de colaboradores. Merece destaque especial o monitoramento realizado nos temas “Covid-19 Amazonas” e “Covid-19 populações indígenas”, ambos coordenados por mim, juntamente com o professor Marcos Freitas do Instituto de Geociências da UFRGS, que mobilizou seis alunos de graduação e pós-graduação sob sua supervisão, e a professora Geise Canalez (UFAM), que supervisionou o trabalho de cerca de 21 pesquisadores da UFAM, UEA, Fiocruz e Museu Nacional, inclusive alunos que viviam em comunidades ribeirinhas do Amazonas. Além dessa diversidade de pesquisadores, ainda no tema das populações indígenas contamos com uma equipe de especialistas em demografia indígena da UNICAMP (professora Marta Azevedo e a doutoranda Alessandra Traldi Simoni), da Universidade Federal da Grande Dourados, Mato Grosso do Sul (professores Levi Marques Pereira e Rosa Colman) e da Universidade de São Paulo (pesquisadora Tatiane Maira Klein). Com o encerramento desses grupos temáticos em 2020, o projeto de pesquisa continuou trabalhando em 2021 e 2022 com os dados de Covid-19 do Rio Grande do Sul em paralelo com as análises socioeconômicas sobre o litoral. No total, além dos incontáveis pesquisadores internos e externos à UFRGS que participaram da força-tarefa que se formou em torno do mapeamento da Covid-19, a equipe de trabalho constituída por membros da UFRGS Litoral soma mais de 30 alunos de graduação que atuaram como bolsistas de Iniciação Científica ou pesquisadores e cerca de 15 professores e técnicos. Uma visão geral da quantidade e distribuição dos pesquisadores em cada equipe temática pode ser conferida em https://www.ufrgs.br/sig/saiba-mais/equipe/.



2-PPEG- As técnicas de uso de Geoprocessamento na questão sanitária, na sua opinião, deveriam serem mais difundidas na escala local, por exemplo as prefeituras utilizarem mais estas ferramentas ?

Ricardo Dagnino- Apesar da dificuldade técnica (hardware e software) e humana (profissionais qualificados), certamente a situação ideal é que cada município ou pelo menos um coletivo deles (reunido em torno de uma associação ou consórcio) tivessem uma sala de situação daquelas que vemos em filmes de ficção científica (e que de fato existem em algumas instituições como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) preparada para monitorar e enfrentar calamidades, crises ou desastres. Nessa sala de situação, os técnicos deveriam armazenar dados estatísticos georreferenciados que permitissem prevenir desastres, visualizar mapas e gráficos, interpretar tendências, estimar riscos e planejar a mitigação, no caso de alguma ocorrência. Infelizmente, o que se viu nessa pandemia é que essa é uma realidade ainda distante no Brasil. Durante a fase mais aguda da pandemia no Rio Grande do Sul, ao longo de 2020, trabalhei ao lado de outros colegas de projeto de pesquisa Eliseu Weber e Vítor Duarte e da UFRGS Litoral, no projeto de extensão universitária “Impactos da Covid-19 no Litoral Norte” que forneceu apoio técnico, elaborou relatórios e assessorou prefeitos e secretários de saúde sobre a pandemia de coronavírus (Covid-19) nos mais de 20 municípios pertencentes à Associação dos Municípios do Litoral Norte (AMLINORTE), Rio Grande do Sul. Nesse trabalho de assessoria contamos com a colaboração valiosa de duas pesquisadoras da Coordenadoria Regional de Saúde (CRS) do Litoral (Ana Cardinale Pereira Souza e Ivone Andreatta Menegolla) que forneciam dados atualizados sobre casos, internações e óbitos no Litoral. A partir desses dados pudemos calcular indicadores locais, para cada um dos municípios, como taxa de contaminação (relação entre casos e população total), índice de letalidade (relação entre óbitos e casos), além de desagregar essas análises por grupo etário (o material está disponível em: https://www.ufrgs.br/sig/covid19-litoral/). Tratava-se de indicadores baseados em dados obtidos localmente pela CRS diretamente nas secretarias municipais de saúde. Eram dados muito mais atualizados do que os que obteríamos somente utilizando os números fornecidos pela Secretaria Estadual de Saúde que chegava a ter defasagem de meses. Ao longo de 2021 calculamos o atraso no processamento e divulgação dos dados que se encontra disponível em: https://www.ufrgs.br/sig/calculo-atraso-covid19-2021/. Essa parceria entre a UFRGS e a associação de municípios do Litoral Norte (AMLINORTE) mostrou que a universidade pode atuar nas lacunas que existem na gestão pública (por exemplo, a ausência daquelas salas de situação cheia de telas e mapas), fornecendo dados atualizados sobre a pandemia para o poder público conseguir elaborar políticas mais eficientes. Infelizmente nosso trabalho foi interrompido quando chegaram as eleições municipais ao final de 2020, algo muito comum no Brasil, onde o planejamento muitas vezes é pensado como projeto de governo e não como projeto de Estado, de nação.

3- PPEG- Dê uma sugestão de aos nossos visitantes do blog PEDAGEO utilizando o Geoprocessamento e Saúde em sala de aula

Ricardo Dagnino- Para trabalhar Geoprocessamento e saúde em sala de aula eu recomendo os materiais que fazem parte da série Capacitação e Atualização em Geoprocessamento em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). Trata-se de uma rica fonte de textos, dados e links muito úteis tanto do ponto de vista teórico quanto prático. Um dos coordenadores do curso é o geógrafo e pesquisador da FIOCRUZ, Christovam Barcellos, um dos grandes pesquisadores da área de geografia da saúde no Brasil, principalmente com uso de Geoprocessamento. O material do curso está acessível em https://www.capacita.geosaude.icict.fiocruz.br/referencia.php, bastando apenas que o professor interessado realize um cadastro rápido para poder baixar o material. Importante notar que para este curso foram convidados diversos autores especialistas em diversos temas para elaborarem textos que foram organizados em três volumes: Volume 1 – Abordagens espaciais na Saúde Pública; Volume 2 – Sistemas de Informações Geográficas e análise espacial na Saúde Pública; Volume 3: Introdução à Estatística espacial para a Saúde Pública. Ao final de cada volume existem exercícios cujos dados podem ser baixados em https://www.capacita.geosaude.icict.fiocruz.br/exercicios.php

E aí você gostou? Então conheça mais sobre os trabalhos e sua atuação atual do Dr. Ricardo Dagnino clicando aqui.





Referência utilizada na questão:

DAGNINO, Ricardo. et al. O MONITORAMENTO DA COVID-19 ATRAVÉS DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA: ESTRATÉGIAS E DESAFIOS PARA A TRANSPARÊNCIA DE DADOS PÚBLICOS NO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL. 2020, nov. Clique aqui e confira na íntegra o artigo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário