sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Semana Farroupilha

Dia 20 de Setembro comemoramos aqui no Rio Grande do Sul, a semana farroupilha ou simplesmente o dia do Gaúcho. Para você visitante ter uma idéia, é construída dentro do Parque Harmonia, no Centro de Porto Alegre, o Acampamento Farroupilha. Isso mesmo, uma cidade construída dentro da outra. Nesse acampamento tem prefeitura, delegacia e várias casas, os chamados piquetes. Sugerismos a leitura do também gaúcho, Rogério Haesbaert que trabalha bem o que descrevo aqui.Quer saber nesse exato momento o que está acontecendo no acampamento, clique aqui.


Convidamos hoje para conversar com a gente e contar um pouco das nossas tradições o Samuel Dani formado em História (2007/1), em Direito (2007/2), Mestrado em Educação (2010/1) e agora começou a cursar Engenharia de Telecomunicações, todos no UNILASALLE, em Canoas/RS. Durante as graduações, trabalhou no Memorial do Rio Grande do Sul, no Museu do Ministério Público e lecionava História. Na parte do Direito, fez estágios em Fóruns e no Ministério Público. Após a conclusão das graduações, começou a dar aula em um curso preparatório para concursos nas matérias de Direito Administrativo e Direito Penal. Atualmente é Servidor Público do Estado do Rio Grande do Sul, e pedimos ao Samuel para contar aos nossos visitantes que moram no Brasil e no exterior, o que foi a Revolução Farroupilha?
Samuel Dani- Buenas, leitor! Tarefa valorosa explicar sobre uma epopéia, assunto que poderíamos falar por meses, e que está impressa em todas as almas que nascem nestas paragens, mas vamos tentar... Primeiramente se deve identificar as causas que deram início a Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha ou como alguns comentam Decênio Heróico, de 20 de Setembro de 1835 a 1 de Março de 1845.evento que marcou a História do Brasil, e imprime na identidade do gaúcho, características peculiares.
Embora muitos ainda responsabilizem a taxação do charque como primeira causa da Revolução Farroupilha, a verdadeira razão da mesma foi uma questão que está nas discussões políticas atuais: o chamado pacto federativo.

Pacto federativo no contexto seria o respeito às vocações, conquistas e potencialidades internas em relação a toda uma construção de identidade como nação. Para ilustrar o sentimento da época, é interessante ver esta parte da carta de Bento Gonçalves enviada ao Regente Feijó, quando da deposição do Governador Braga e início do sítio de Porto Alegre:
O pampeiro destas paragens tempera o sangue rio-grandense de modo diferente do de certa gente que há por ai. Nós, rio-grandenses, preferimos a morte no campo áspero da batalha do que as humilhações nas salas blandiciosas do paço do Rio de Janeiro. O Rio Grande é a sentinela do Brasil que olha vigilante para o Rio da Prata. Merece, pois, mais consideração e respeito. Não pode, nem deve ser oprimido por déspotas da fancaria. Exigimos que o governo imperial que nos de um governador de nossa confianca, que olhe pelos nossos interesses, pelo nosso progresso, pela nossa dignidade, ou nos separaremos do centro, e, com a espada na mão, saberemos morrer com honra ou viver com liberdade.

A Revolução Farroupilha teve influência ideológica das Províncias do Prata, líderes como Bento Gonçalves, General Netto, Onofre Pires do Canto, Davi Canabarro, em sua maioria eram estancieiros com grandes laços com Uruguai e Argentina. Durante a Revolução, também houve a participação de italianos refugiados, envolvidos com o movimento republicano na Itália como Giuseppe Garibaldi. O movimento não teve aceitação integral no Rio Grande do Sul, ficando delimitado mais na metade sul, vocacionada as estâncias produtoras de charque, e não ao norte, do estado, e colônias de imigrantes.

Em seu auge a República Rio Grandense se estendeu até Santa Catarina, onde foi proclamada na cidade de Laguna, a república Juliana, com Anita e Giuseppe Garibaldi e Davi Canabarro na maior façanha da Revolução, o transporte por terra de dois lanchões, de nome Seival e Farroupilha, até tramandaí, pois Porto Alegre e Rio Grande estavam em mãos imperiais.
No que tange a enfrentamentos militares, os principais foram: Seival, em 10 de setembro de 1836; Fanfa, em 4 de outubro de 1836; Rio Pardo, em 30 de abril de 1837; Laguna (foram na verdade, dois combates, aquele em que os farrapos tomaram a cidade, em 22 de julho de 1839, e o de quando as forças imperiais a retomaram, em 15 de novembro de 1839); Taquari, em 3 de maio de 1840; São José do Norte, em 16 de junho de 1840; Ponche Verde, em 26 de maio de 1843 e Porongos, em 14 de novembro de 1844.Para combater os farroupilhas o Exército Imperial, em 1842, dispunha de 12 mil soldados, ou seja, mais de metade da força militar total do Brasil, calculada em 22000 soldados. Para termos idéia, este número mostra a superioridade tática dos Farroupilhas, cujas forças eram cerca de 3.500 homens, que lutaram por 10 anos contra o Império do Brasil... Feitos como estes são motivos de frases como a de Oswaldo Aranha:
“Quando se quiser escrever a História do Brasil, queiram ou não tem-se que molhar a pena no sangue do Rio Grande do Sul” e como brada nosso Hino: “Sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra.”
PPEG- Na década de 90, haviam pessoas querendo a “ separação do Rio Grande do Sul com os outros estados”, o denominado movimento separatista. Qual a sua opinião sobre esse assunto.

Samuel Dani- Antes de opinarmos sobre o separatismo, teríamos que nos questionar sobre qual o ideal de Brasil que estamos construindo e qual o ideal de nação que foi proposto na Independência em 1822 e pelos na República em 1889. Penso que se todas as vocações regionais fossem respeitadas e incentivadas, bem como houvesse investimentos uniformes em todas as 27 unidades federativas, duvido que alguém discutisse separatismo. O problema central é saber quanto brasileiro sou, morando no Acre, em Roraima, em Rondônia, no Rio Grande do Sul... quanto do Estado Brasileiro está presente em minha vida e em quais setores vejo este Estado presente. Muitos cidadãos só percebem a figura do Estado como cobrador de impostos e não como promotor da cidadania e do bem estar social. Infelizmente no Brasil, ainda vive-se regionalismos e mesmo quase 200 anos após a Independência, não se discutiu qual o ideal de nação que vamos construir daqui para a frente, juntando todos os entes federativos para a discussão.

Como estamos no mês que antecede o das eleições, é interessante saber que, por exemplo, unidades federativas como Acre, Amapá, Amazonas, Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima, Sergipe e Tocantins possuem oito deputados cada um e São Paulo possui 70... (sim, sei que este número é relacionado com a população de cada estado).
Sendo assim, fica realmente difícil para alguns estados se sentirem parte do processo decisório, e terem seus interesses e manifestações propostos...
Infelizmente ainda não resolvemos questões que estavam em pauta nas primeiras décadas do século XIX e que resultaram em revoltas como Confederação do Equador, Cabanagem, Balaiada, Sabinada e a Revolução Farroupilha. E depois falam que não é preciso estudar História...

PPEG - E esse Buchicho, o que me diz tchê?

Samuel Dani- Bah... muitas coisas! Entre elas o fato de que amo poesia... tenho várias decoradas e poesias são uma grande fonte de estudo. Adoro ler Fernando Pessoa, Vinicius de Moraes, Mário de Andrade, Augusto dos Anjos, e é claro os gaúchos (regionalistas).
Mas o principal significado, em minha opinião, é que junto com Payada, também de Jayme Caetano Braun, Bochincho contém as matrizes da construção do ideal de Gaúcho que alguns pregam...
Pode-se fazer uma tese de doutorado com ela..., pois aborda dezenas de temas em algumas linhas como: comportamento humano, relações sociais, gênero, família, e é claro o espírito gaudério de não levar desaforo pra casa...


2 comentários:

  1. Meu grande amigo Samuel!!Parabéns pela tua explanação e pelo cultivo de nossa tradição gaúcha!Tenho orgulho de ter estudado contigo.O mundo precisa de pessoas que tenham verdadeiramente a alma gaúcha!Um grande abraço!!Joice Fialho.

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  2. Dá-lhe Samuel!! Aquele abraço!!
    Parabéns!!!
    Leonardo Lemes

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