terça-feira, 13 de julho de 2010

Entrevista do Mês

Alcione iniciou a caminhada acadêmica na Universidade Comunitária Regional de Chapecó (UNOCHAPECÓ), no curso de Geografia em 2003 e foi através dessa ciência que obteve as primeiras experiências como acadêmico e como pesquisador. Desenvolveu pesquisa de iniciação científica e participou de outras pesquisas financiadas pela própria universidade e pelo Fundo de Apoio a Pesquisa Científica do Estado de Santa Catarina (FAPESC). O gosto pela geografia, pelo estudo do meio geográfico, das questões sociais, ambientais, e principalmente pelas técnicas de representação de fenômenos espaciais, o levou a buscar mais experiências nestas áreas, de modo que realizou trabalhos de monitoria no laboratório de Cartografia da universidade. Ao finalizar a graduação optou por realizar a especialização (pós latu-sensu) em Levantamentos Geodésicos: Certificação e Georreferenciamento de Imóveis Rurais, na mesma universidade.
Em 2008 ingressou como bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) no Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional (PPGDR) da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), agregou aos seus conhecimentos a possibilidade de contribuir para a promoção do desenvolvimento de territórios, diminuindo disparidades sociais e pensando, sobretudo, na preservação dos recursos naturais, na sustentabilidade. E com isso o nosso entrevistado desse mês é o Geógrafo Alcione Talaska, após a entrevista deixe seus comentários.


PPEG - Conte-nos um pouco do seu artigo “A delimitação do urbano e do rural no Rio Grande do Sul, Brasil”.

Sr. Alcione Talaska: Este artigo, escrito em co-autoria com Almir Arantes e José Antonio Farias Assumpção, foi resultado de estudos realizados na disciplina de Desenvolvimento Rural e Urbano no PPGDR/UNISC. Uma versão preliminar deste artigo foi apresentada no Seminário Internacional de Estudiantes de Postgrado em Estudios Americanos (SIEPEA) realizado pelo Instituto de Estudios Avanzados da Universidade do Chile, em junho de 2009. Neste evento tomamos conhecimento da possibilidade de realizarmos a publicação final do artigo na revista Colombiana de Geografia da Universidade Nacional da Colômbia, fato que se consumou.

O artigo trata especificamente da problemática da identificação e delimitação de territórios rurais ou urbanos no Rio Grande do Sul. É importante frisar que este artigo foi escrito tendo em mente a identificação das características dos territórios (municípios) com vistas ao planejamento para o desenvolvimento. Com este enfoque, o artigo afirma que os critérios utilizados atualmente para a definição do urbano ou rural no Brasil, que são oriundos do primeiro governo de Getúlio Vargas (Decreto-Lei 311 de 1938), servem exclusivamente para a diferenciação da forma de extração da renda da terra, se urbana ou rural, e consequentemente tributação, se urbana (IPTU) ou rural (ITR), e acabam não refletindo as reais características dos territórios. Estes critérios não permitem que se verifique se um território possui características predominantes rurais ou urbanas, para citar um exemplo: a área considerada urbana do município de União da Serra/RS pode ser considerada tão urbana quanto a de Porto Alegre/RS? Ao nosso ver, não. Pois o que regula todas as atividades econômicas, sociais, culturais, no município de União da Serra não são predominantemente urbanas e sim rurais, diferenciando-se assim de Porto Alegre. Então, o que ressaltamos neste artigo é que seguindo a metodologia oficial, a população do Rio Grande do Sul, do Brasil, logo se tornaria totalmente urbana, o que certamente não condiz com a realidade. Acreditamos, não ser possível dissociar integralmente o rural do urbano ou o urbano do rural, pois estes espaços segregados pelo Decreto-Lei de 1938 se influenciam e se complementam. Dessa forma, verificamos e defendemos que se precisa avançar na definição de novos critérios que identifiquem, a partir de um olhar global do território (do município), se as atividades que regulam a convivência da população são decorrentes de atividades predominantemente urbanas, rurais ou urbanas e rurais. Muito embora, este debate esteja longe do consenso, entendemos que a necessidade da reavaliação dos critérios é importante e oportuna, haja vista os desdobramentos que a definição das características (urbanas e rurais) dos territórios trazem no campo da política, da economia, da ecologia, da sociologia e antropologia. Nesse sentido, este artigo indica a necessidade de uma reavaliação dos critérios oficiais, portanto políticos, a respeito da identificação do que é urbano e o que é rural, até para que a formulação e implementação de políticas públicas sejam efetuadas com a maior precisão possível.


PPEG - Conte para os nossos visitantes como foi seu estágio?

Sr. Alcione Talaska - O estágio no laboratório de Cartografia da UNOCHAPECÓ foi uma experiência muito válida, pois tive a oportunidade de participar de várias atividades. Além da assessoria a acadêmicos na elaboração de seus trabalhos, da elaboração de material cartográfico, de maquetes, de material explicativo para ser utilizado em sala de aula e em projetos de extensão, tive a oportunidade de participar de projetos de pesquisa, participando de reuniões, debates com pesquisadores de renome, bem como, de seminários em vários lugares do Brasil e de saídas de campo, verificando na prática muito do visualizado na teoria. O estágio realizado durante minha graduação, como monitor do laboratório de cartografia, foi, na verdade, o condicionante para a escolha das próximas etapas da minha formação acadêmica: (i) a especialização em levantamentos geodésicos pela necessidade de maiores conhecimentos sobre o posicionamento (acurado e preciso) e representação de fenômenos espaciais; e até mesmo o (ii) mestrado em desenvolvimento regional, que certamente foi escolhido devido aos conhecimentos e experiências tidos no curso de geografia, no laboratório de cartografia e na especialização em levantamentos geodésicos.


PPEG - Entendemos que os levantamentos geodésicos são utilizados para a representação de superfícies de dimensão territorial, onde a topografia auxilia na determinação do apoio geodésico. Por que da escolha da especialização nesta área?

Sr. Alcione Talaska -Na verdade, seguindo os pressupostos do IBGE, os levantamentos geodésicos compreendem o conjunto de atividades voltadas para medições e observações que visam a determinação da forma e dimensões do nosso planeta, se geóide ou elipsóide. A partir dos levantamentos geodésicos é estabelecido o referencial físico e geométrico necessário ao posicionamento preciso e acurado dos elementos territoriais, elementos que compõe a paisagem territorial. Ao nível local, os levantamentos geodésicos fornecem o apoio básico indispensável para operações topográficas de levantamento, permitindo o controle horizontal e vertical dos pontos geodésicos através da determinação de coordenadas geodésicas (x, y) e altimétricas (z).
A escolha da especialização em Levantamentos Geodésicos: Certificação e Georreferenciamento de Imóveis Rurais, como comentado anteriormente, foi em decorrência da necessidade de maiores conhecimentos sobre a forma de coleta, tratamento e representação de fenômenos espaciais, mantendo a precisão e a acurácia da localização dos mesmos.
Para a escolha desta especialização, certamente foram decisivos: (i) o oferecimento de algumas disciplinas especificas (como a de cadastro técnico multifinalitário, de GPS, de cartografia digital, de fotogrametria, de sensoriamento remoto e de SIGs); e (ii), principalmente, pela temática incluir o “georreferenciamento de imóveis rurais”, uma questão de grande importância para o conhecimento da forma de apropriação do território rural pelos proprietários de terra.
De uma maneira geral, a escolha da especialização em Levantamentos Geodésicos: Certificação e Georreferenciamento de Imóveis Rurais foi importante. Os conhecimentos adquiridos atenderam as expectativas, a ponto de serem utilizados durante a elaboração da minha dissertação de mestrado, que teve como tema a “Estrutura Agrária e Reconfiguração Fundiária, e está contribuindo na elaboração do pré-projeto de doutorado. Ainda, devido aos conhecimentos adquiridos nesta especialização, como também aos estudos no PPGDR, escrevi um artigo que em breve será publicado pela Revista Finisterra da Universidade de Lisboa. Este artigo, intitulado “A importância da estrutura fundiária georreferenciada para o planejamento e gestão do território rural do Brasil”, mostrará a possibilidade da construção de uma base georreferenciada da estrutura fundiária, através das informações coletadas no georreferenciamento dos imóveis rurais, e consequentemente permitirá, quando utilizada de forma integrada pelos diferentes órgãos governamentais, através do cruzamento de informações, identificar com maior agilidade fragilidades e carências do território, auxiliando a elaboração de planos, o direcionamento apropriado dos investimentos públicos, como também o monitoramento dos impactos da implantação de políticas públicas.


Sugestão de leitura do artigo:

REDES TÉCNICAS E ESTADO BRASILEIRO: UM OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO DO TERRITÓRIO NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DA RODOVIA BR 163. Dos autores: Alcione Talaska , Almir Arantes e José Antonio Assumpção Farias.


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